Experimentador obsessivo, o artista usou na obra compostos químicos que nunca antes tinham sido aplicados a uma pintura
NOVA TÉCNICA - O retrato da Gioconda no Museu do Louvre, em Paris: camada básica tinha tinta calcada em chumbo O que mais dizer de Leonardo da Vinci , um dos mais conhecidos personagens da história da civilização? Convém iluminar, para além da genialidade do artista, cientista, filósofo e engenheiro, sua infinita capacidade de misturar as disciplinas. Era o modo pelo qual ele compreendia, explicava e reproduzia o que havia ao redor.
No fim, mandou às favas a comissão que o patrono lhe prometera para terminar, com atraso e por sua conta e risco, aquela que se tornaria sua obra magistral, a, hoje pendurada em uma parede exclusiva no Museu do Louvre, em Paris, atrás de um vidro blindado. Foi ela quem alavancou a fama incomparável do mestre. E nenhum trabalho humano foi mais comentado, investigado, escrutado — e copiado — do que a Gioconda, a sorridente.
Um grupo de cientistas e historiadores de arte da França e do Reino Unido verificou a existência de plumbonacrita. O material, um mineral com alto teor de chumbo e aparência de madrepérola, ainda não tinha sido detectado em pinturas renascentistas italianas, embora tenha sido encontrado em telas do holandês Rembrandt, datadas do século XVII.
A brancura tinha o valor de uma página virgem. Servia também como “refletor” da luz que atravessava as camadas superiores de tinta e dava a ilusão de profundidade para o observador. A presença de plumbonacrita nos compostos mostra que Leonardo, sempre à frente de seu tempo, experimentava novas formas de tornar a tinta mais grossa e também de explorar essa consistência na obtenção de efeitos que tornariam mais realistas suas imagens.